sábado, 18 de setembro de 2010

A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Bom, não é possível falar de uma relação sem que primeiro falemos de AFETIVIDADE. E o que é que nós sabemos sobre afetividade? Qual a nossa concepção desta palavra?
Etimologia da palavra: do latim afficere, - influenciar, afetar, tocar.
Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões acompanhado sempre da impressão da dor ou do prazer, satisfação ou não satisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza. ( significa que pode ser positiva ou negativa).

Descrever a diferença paixão e afetividade a emoção é a exteriorização da afetividade, ou seja, é a sua expressão corporal, motora. E significa, originariamente, "E" (do latim ex) = para fora, "moção" = movimento. "A emoção é o movimento da vida em cada um de nós. Trata-se do movimento que brota no interior e se expressa no exterior; é o movimento de minha vida que me diz - e que diz às pessoas à minha volta - quem eu sou” (FILLIOZAT, 2000, p. 61).
Este corresponde à expressão representacional da afetividade. Não implica reações instantâneas e diretas como na emoção.

Opõe-se ao arrebatamento, que é uma emoção autêntica. Ao contrário, tende a reprimi-la, impor controles e obstáculos que quebrem sua potência. Os sentimentos podem ser expressos pela mímica e pela linguagem, que multiplicam as tonalidades, as cumplicidades tácitas ou subentendidas.
O termo paixão, “é um sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão”.

Wallon (1968) refere-se à paixão como a manifestação afetiva, comportando suas origens nas relações com o outro. Ela revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação. Tenta, para isso, silenciar a emoção, e caracteriza-se por ciúmes, exigências, exclusividade.

Ao tratarmos da paixão como um sentimento presente no indivíduo, torna-se necessário atentarmos para a afetividade, contexto no qual consideramos está a paixão inserida, uma vez que insurgindo a paixão, há a presença da afetividade.
De acordo com Henri Piéron (1996, p. 11), a afetividade tem efeitos definidos sobre o corpo e o espírito. O mesmo afirma que esta é : “a capacidade individual de experimentar emoções e sentimentos. Reação emotiva generalizada com efeitos definidos sobre o corpo e o espírito”.

Quanto à conceituação dos fenômenos afetivos existe grande divergência. Na literatura encontra-se, eventualmente, a utilização dos termos afeto, emoção e sentimento, aparentemente como sinônimos. Entretanto, na maioria das vezes, o termo emoção encontra-se relacionado ao componente biológico do comportamento humano, referindo-se a uma agitação, uma reação de ordem física, como o choro, o riso, as mãos suadas, o friozinho na barriga Já a afetividade é utilizada com uma significação mais abrangente, referindo-se às vivências dos indivíduos e às formas de expressão mais complexas e essencialmente humanas.

Quando falamos de vivência, estamos nos referindo á pessoas e em se tratando de escola, aprendizagem, as personagens deste contexto, são professor e aluno, o que eu prefiro referir-me enquanto educador e educando. Para tanto, indubitavelmente aqui se configura um fator fundamental que é a dialética. Dialética, no sentido atribuído por Marx, é “movimento do mundo em processo” (Gadotti, 2001), movimento este, capaz de tornar possível a libertação do homem através do diálogo professor-aluno, que não se estabelece apenas em suas relações amigáveis, mas na aquisição de estratégias político-pedagógicas que visem a transformação social.

Na teoria de Wallon, a emoção se integra de maneira indissociável a inteligência, e ambas se expressam através do movimento, que, por sua vez, afetará as emoções e a inteligência.


Percebe-se aí que é pela afetividade (operando, dialeticamente, com as funções cognitivas) que a criança mergulha no meio social, constrói a sua história, a sua identidade, os seus conhecimentos. Para Wallon, cabe à escola, mas principalmente ao professor, um importante papel social, devendo compreender o aluno no âmbito da sua dimensão.

Daí surge indagações, como: Como o professor pode contribuir com essa construção da identidade do aluno? Qual a sua responsabilidade ou o seu papel?
E então outra indagação importante se faz inevitável neste contexto: Será que você professor, em algum momento da sua trajetória enquanto educador já teve a curiosidade de refletir sobre os princípios que orientam a sua prática educativa? Que princípios são estes? Os filosóficos, epistemológicos e educacionais. E dente estes vou comentar apenas os filosóficos porque acredito que os demais virão como conseqüências, considerando que este se subdivide em três importantes aspectos:

Estética da sensibilidade, (Contribui para constituir identidades capazes de suportar a inquietação, capazes de conviver com o incerto e com o diferente...)
Política da igualdade – (Deve ser praticada na garantia da igualdade de oportunidades e da diversidade de tratamentos.)

Ética da identidade (Possibilita o desenvolvimento do processo de reconhecimento pessoal, a construção da auto-estima, operacionalizando uma autonomia responsável, solidária e verdadeira.)
É nosso papel enquanto educadores não só refletir sobre estes princípios, mas tentar trazer para a nossa prática e somente aquele, que acredita numa educação fundada nestes princípios tem a capacidade de desenvolver e cultivar uma relação favorável de diálogo com o educando.

De acordo com Gadotti (1999, p. 2), o educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, “colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida”.

Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo, em alguns casos, encarada como obrigação. Para que isto possa ser mais bem cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas ações no desenvolver das atividades.

Eu não tenho dúvidas de que a afetividade que fomenta esta relação professor e aluno contribua muito para a aprendizagem do aluno. Esta inquietações me incomodaram por bastante tempo até que decidi fazer uma pesquisa e ao sugerir à um grupo de alunos que escrevessem sobre um professor que mais marcou a sua trajetória. E trago aqui alguns depoimentos.
O meu professor que me marcou, mas de maneira ruim, foi o de Matemática da 1ªsérie do Ensino Médio. Explicava, mas eu não entendia e quando perguntava me respondia com a fala alterada e eu ficava inibido. Não tive mais coragem e a partir de então perdi o interesse. E olha que eu gostava de Matemática (Aluno nº 7, 2º semestre).

O professor de Matemática da 2ª série do Ensino Médio me fez um grande bem e eu jamais vou esquecer. Eu estava repetindo a série por causa dessa disciplina e bem desmotivado por não gostar, pois sempre encontrei dificuldades. Ele, no entanto, encontrou uma maneira de me ensinar que aquilo que me parecia tão difícil, tornou-se fácil, foi como uma luz que se acendeu (Aluno nº 6, 3ºsemestre
“Eu não suportava aula de matemática, pensava que não era inteligente para aprender, mas apareceu um professor que tinha muita paciência comigo, me compreendia e eu acabei por gostar” (Aluno nº, 19, 1ºsemestre).

A minha professora predileta era muito afetuosa, criativa, sabia compreender quando eu não conseguia fazer a atividade, me ajudava e falava sempre que eu ia conseguir. Além disso, era muito divertida e atenciosa com todos os seus alunos. Esta era a minha professora da 3ªsérie (Aluna nº 2, 3ºsemestre.
Corroborando estes depoimentos cito Freire (1996, p. 159-160):

Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos [...] A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele.


- Palestra proferida ao curso de Pedagogia - ISEC, 17 de Setembro.

Marly Soares da Costa

2 comentários:

  1. Querida amiga, tenha um lindo final de semana. Beijocas

    ResponderExcluir
  2. É importante que exista afeto na relação professor-aluno, pois contribui de forma positiva no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.

    muito bom o texto.

    abraços
    de luz e paz

    ResponderExcluir